Pensando sobre a
velhice que assombra o futuro de homens e mulheres e que, inexoravelmente, nos
atingirá. E aqui abro um parêntesis para dizer: tomara que eu chegue lá! Mesmo
querendo envelhecer porque assim ainda estarei viva, não gosto da ideia de
envelhecer porque é muito triste ver seu corpo perfeito engordando,
despencando; o rosto enrugando, e pior que tudo isso são as limitações físicas:
as dores musculares, dores nos ossos; a visão diminuída, e tantos outros
problemas que surgem com a idade. Por isso, a poetisa Cecília Meireles escreveu
uma linda poesia que retrata o pensamento da maior parte das pessoas que
perderam a juventude. Diz assim:
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
FONTE: Cecília Meireles MEIRELES,
C. Obra poética. Volume 4. Biblioteca luso-brasileira: Série brasileira.
Companhia J. Aguilar Editora. 1958. p 10.
De
repente, as pessoas começam a te chamar de senhora. Meus Deus, eu sou uma
senhora! Como isso me assusta. Enquanto esqueço o espelho acredito que sou
ainda jovem, tenho desejos de jovem: voar de asa delta, escalar montanhas, caminhar
em trilhas radicais, ficar de mãos dadas com meu amor e expressar todo nosso
sentimento com beijinhos e abraços; vestir uma minissaia. Mas o espelho me
mostra o ridículo em vestir roupas que não condizem com minha idade
cronológica.
O
pior de tudo isso é ter sua mente jovem presa num corpo que não consegue
acompanhar a agilidade das ideias, e saber que cada vez mais as grades da idade
te deixarão segregado, afastado da vida que está lá fora: o sol que brilha te
convidando a uma caminhada, as águas do mar se oferecendo para te banhar,
tantas coisas boas deixadas para trás porque você não consegue mais
realizá-las. Resta apenas o conselho aos mais jovens: faça sua caminhada
pensando na velhice, nela você precisará de um plano de saúde, de uma faxineira
e alguém que te faça companhia, pois, com certeza, a velhice nos deixa viúvas,
ou se somos solteiras, nos deixa solitárias. A maioria das pessoas não gosta de
cuidar de velhos. Que coisa terrível! Por
isso é preciso poupar para poder pagar quem cuida de você, ou então você poderá
ser enviado para um asilo.
Contudo, ainda sou uma mulher
idovem. Criei essa palavra porque não
sou mais jovem, mas também ainda não sou idosa, e me recuso a ser chamada de
idosa porque ainda estou na faixa dos 50, ou mesmo quem está na faixa dos 70.
Assim, criei esse verbete:
IDOVEM – adj. comum de
dois gêneros. Pessoa que não é jovem nem idosa e que está entre a faixa etária
de 50 a 70 anos e tem a mente jovem.
Mente jovem esse é o
segredo de envelhecer sem ser excluído pelos jovens; a conversa de uma pessoa
madura, mas que tem a mente jovem é aceita. Sabe, vou confessar: adoro
conversar com jovens, eles têm boas ideias, falam do futuro e de suas
conquistas; enquanto a maioria das pessoas de
minha idade falam mais sobre doença, do remédio que estão tomando, de
suas dores e tristezas. Menino, a gente sai de um papo desse mais velho do que
é. Por isso é bom conversar também com as pessoas “idovens” porque ainda têm
sonhos, metas, projetos e desejos.
Falando em desejos,
Rubem Alves, em seu livro “O que é religião”, diz que o desejo está
“amordaçado, em ferros, reprimido, recalcado, proibido de fazer ou dizer o que
deseja, sem permissão para ver a luz do sol, condenado a viver nas sombras
[...] O desejo grita: ‘eu quero!’ A sociedade responde: ‘Não podes’, ‘Tu
deves’. O desejo procura o prazer. A sociedade proclama a ordem” (ALVES, 2013,
p.88-89).
A sociedade brasileira
tem uma visão bastante pejorativa do velho. Infelizmente, aqui, as pessoas
maduras, com experiência são relegadas ao ostracismo porque acredita que
pessoas idosas só dão trabalho. Não reconhecem as ferramentas que ele deixou no
caminho por onde passou necessárias à construção de uma sociedade melhor. O passado é uma ponte por onde o jovem tem que
passar para chegar no futuro. Nós, idosos, idovens, construímos as bases do
futuro. Lembrem-se disso os jovens.
Esse papo está ficando
chato. Parece conversa de velho. Mas é tão bom ter seu trabalho e esforço reconhecidos.
Como é bom ser reconhecido! Quer agradar uma pessoa idovem ou uma pessoa idosa, reconheça e
agradeça o que ele fez por você, mesmo que não tenha sido diretamente para
você, mas você é parte da sociedade e dela usufrui muito mais do que nós ou
nossos pais usufruíram. Naquele tempo....Deus nos livre....era tudo tão
difícil: ter um carro, uma casa, roupas, adereços, comida....tudo era muito
difícil. Hoje, a maioria dos jovens têm seus desejos atendidos. Não é verdade?
Enfim...
Mas eu sou uma mulher “idovem”
e tenho desejos e sonhos: quero ir à Europa, conhecer o “Velho Mundo”, pois tem
tanto a nos ensinar, ele fez a nossa história por isso quero conhecê-lo. Quero
voltar mais uma vez para a Academia (universidade) para adentrar nos novos
conhecimentos e ter mais sabedoria para aconselhar; mas quero também continuar
na academia (lugar onde se cuida do corpo) fazendo musculação para que a corpo
não despenque tão depressa. Sonhos, como é bom sonhar!
Os desejos dos idovens
são desejos que fazem bem a ele e a todos que o cercam. Por exemplo, eu quero
ser avô Não é legal? Pretendo curtir meus netinhos, e eles farão companhia a
seus pais, vão dar trabalho, é verdade, mas é maravilhoso ter filhos. Veja como
o desejo de ser avô faz bem a todos. Nós desejamos que nossos filhos criem asas
e conheçam lugares que não tivemos oportunidade de conhecer; sejam
reconhecidos, ganhem prêmios, tentem mudar o mundo para melhor, façam
boas-obras, sejam solícitos, estendam a mão aos necessitados e cuidem de seus
velhos, e os respeitem, e os amem, e os queiram perto de si, porque é só isso
que queremos: amor. Não só os idovens, todos querem ser amados.
Amar, amar e amar é
este afinal o desejo de todos. Vamos amar então!